No alto da ladeira, após a cerca, a janela da casa expunha a metade falante da laranja Melo — o sobrenome sa família.
Maria apreciava a vista da estrada de terra, quando o cheiro da Rosa Amélia anunciou a chegada do amado, Armando.
Há quanto tempo ela não escuta a sutil advertência — Fecha a ‘tramela’, Maria(!), no momento do agouro aos dissabores do dia.
E o aroma de alho frito a serviço do mingau de cachorro* que ele tanto comia(?), só eles sabem.
Pois sossegado Armando chegou e foi recebido no sofá a que ela acedia. — Pode ficar, aqui cabe nós dois, disse ele ao assentar no móvel, e, ao lado esquerdo do peito dela.
Entre tantos momentos juntos, mais de cinquenta anos, o reencontro durou pouco. O tempo necessário para o abrir dos olhos da Maria, no mesmo lugar do sonho.
|Ele partiu em 2012 e deixou o marco do amor|
*Mingau de cachorro: alho frito, farinha de mandioca, água e sal.
Imagem: arquivo da janela dos Melo, Euclides da Cunha, Bahia, 2017.
No seio materno, minha avó continua firme e o meu avô só aparece a quem nunca fechou a taramela. Afinal de contas, como ela retruca:
— Quê que tem(!)
Até logo!