Na última segunda-feira, 9, trabalhadores da Prefeitura Municipal de Morro recapearam o patrimônio da rua Valverde, a cratera que divisa a avenida Condessa, no bairro Remo.
Concebida pela tarde, a obra serviu de passagem para a carreata do atual prefeito, durante à noite, do mesmo dia. Zilmara, 32, artista plástica vizinha do trecho, analisou o resultado, “esse trabalho inspira arte contemporânea. Instantâneo, efêmero e disforme”, ironizou a artista.
Fontes que preferem não se identificar afirmam ter visto um fiscal a averiguar o roteiro, antes do cortejo.
Dona Cecília, 63, recebeu a novidade sem muita surpresa. “Há vinte anos a mesma coisa acontece, domingo eles esperem a minha sombra!”, advertiu a aposentada.
A Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Morro não respondeu à reportagem sobre a infraestrutura do bairro e a possível relação da obra com evento posterior.
Maria, 38, moradora do rua transversal, ostentou uma bandeirinha de apoio ao prefeito durante a carreata. “Dia 15 já tenho meu candito”, festejou Maria.
*A reportagem apurou que Maria trabalha na Secretaria de Infraestrutura Municipal de Morro, por meio de cargo em comissão.
Enquanto isso, em Fazendinha…
Mateus: Olha isso, cara. Esses políticos do interior serrano são uma fraude mesmo.
João: O que foi?
Mateus: Essa notícia de Morro. Um político que tá no poder há três séculos; manipulando todas as eleições e fazendo o povo de besta.
João: Como assim? Deixa eu ver isso.
Mateus: Te mandei aí no zap. É sobre um prefeito de um municípiozinho; ele concorre todas as eleições que pode e sempre se reelege. E quando não pode, indica um candidato e faz ele de fantoche.
João: Caramba! Mas o que diz essa notícia? Algo sobre uma carreata?
Mateus: É a presepada mais recente dele. Passou asfalto em uma rua esburacada à tarde, pro comício passar à noite. Surreal, né!?
João: Nossa! Como a gente nunca ouviu falar desse peça rara nos jornais?
Mateus: Porque ele controla a imprensa, né! O cara governa como um rei absolutista; compete pau a pau com o Luís XIV.
João: Hahaha! Não exagera!
Mateus: É sério! Ainda bem que aqui em Fazendinha não tem essas coisas!
João: Graças a Deus que a política daqui é limpa!
E assim os garotos sentaram às suas mesas no Órgão Municipal de Nada com Nada. Mal sabiam eles que Emma ouvira todo o diálogo.
Mateus e João estavam começando a ligar os computadores quando ela chegou:
Emma: Bom dia, meninos!
Mateus: Bom dia!
João: Bom dia, flor do dia.
Mateus: Puxa saco! Hahaha.
Emma: Ah se fosse só ele, né!?
Com essa, o Mateus e o João se calaram.
Emma era a chefe dos garotos. E ela sabia das artimanhas que eles tinham aprontado para obter os cargos que ocupam, sendo tão inexperientes.
Emma: Bom dia, Clara.
Clara: Bom dia, chefe.
Emma: Sabe o que acabei de ouvir na sala daqueles dois idiotas? Que em Fazendinha a política é limpa. Até parece!
Clara: Eles não são comissionados?
Emma: Exatamente! Quase que digo isso na cara deles!
Clara: Mas sobre o que eles estavam falando?
Emma: Sobre um político manipulando as eleições para se manter no poder. Dizendo que no nosso Estado não tem esse tipo de coisa.
Clara: Será que eles esqueceram do caso de Vila Bela? Aquele em que a família inteira já passou pela prefeitura?
Emma: Pois é! Hahaha! Ainda tem essa!
Clara: Povo sem noção!
Emma: São pessoas como essas que mantém os idiotas no poder. Nesse fim de semana mesmo vão eleger os palhaços que governarão pelos próximos quatro anos.
Clara: Mas que descrença, mulher! – disse Clara, sorrindo. – Você não sabe das campanhas de voto consciente?
Emma: Quê? Nunca nem ouvi falar!
Clara: É! Muitos jovens e adultos não-políticos decidiram ir às ruas esse ano, procurando conscientizar a população sobre o que devem procurar saber antes de votar em um candidato. Eles têm contas nas redes sociais também. Olha aí, acabei de te enviar.
Emma: Uau! Isso é incrível.
Clara: Sim!! Eles falam sobre ler as propostas dos candidatos, procurar saber quem são, quais seus antecedentes, analisar suas coligações políticas, seu partido e suas ideologias, além de assistir aos debates e ouvi-los falar. Porque a melhor maneira de reconhecer um mentiroso, é ouvindo-o falar, não é mesmo? Hahaha.
Emma: Tomara que as pessoas escolham certo dessa vez! Agora vamos ao trabalho, que as não comissionadas têm que defender seu posto!
Clara: Hahaha! Vamos!
Fim.
Esse post foi uma coprodução com a blogueira Emily Santos, sobre o fazer política nos municípios brasileiros, em breves relatos.
Os dados são fictícios, embora as histórias sejam factíveis. No domingo,15, teremos a chance de mudar essas narrativas cansadas, ao escolher representações conscientes.
Acompanhe o post e o blog da Emily.
Até logo!