A anestesia aplicada no corpo da minha vida perde o efeito a dois passos da cama, na janela do meu quarto. Parece esquisito, embora a linguagem celeste diga o que é preciso para o conserto da minha alma, sem a paralisia do cotidiano.
Não, não é blefe. Toda noite olho para o céu, sinto a brisa da noite, observo o luar e a velocidade que as nuvens percorrem o espaço à vista. É quase mágico e cada vez mais vital para o meu querido bem-estar.
O que, então, é dito? Anteontem a mensagem veio mediada pelo roxo chuvoso, meio lilás, vento suave e um aroma mal compreendido, a tradução? Mistério, a palavra feito o tudo, fala, mas diz nada.
Ontem o azul cinzento, aquarelado em nuvens grandes apressadas, unidas e bem esparramadas trouxe em aroma de roupa lavada, ao fundo do armário, a mensagem de conforto carecida após assistir Querô.
Ademais a leitura sem palavras, termino o contemplo a cada dia, respiro fundo, pausadamente, e descanso em paz porque vivo em paz. Muito embora o todo a minha volta nem saiba, porque não sente, o que é a paz.
O dado que faz da minha janela o refúgio de um mundo que só deságua ao canto interno dos olhos.
Imagem.: Janeiro de 2021, F. de Santana, Ba. | Como não se perder na leitura deste quadro? Não é a partir do quarto, mas vale a vista |
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Sinto que devo satisfação pelo sumiço e logo explico que a minha escrita não existe sem sentir.
Talvez imagine o hiato como apatia, então, mas não é isso. É que alguns sentimentos são difíceis de traduzir ou até digerir.
O que faço é cozinhar as ideias em fogo lento a fim de apresentar um prato apurado. Nem gelado, nem queimado, na temperatura que sinto os momentos vividos, com o tempero de significado.
Até logo!