Nunca estive longe,
moro a sua porta.
Todos os dias a vejo.
Sempre a limpar.
E a limpar...
Sem fim.
Lesí escrevia cartas diariamente à mãe; quando percebia alguma ofença, amassava e jogava fora. Assim o fez. Sabia que a mãe custava a se recuperar.
Em frases miúdas, pouco dizia sobre si. Ao ponto de um olhar externo atestar os escritos como um ofício de poucos minutos.
Passava, em verdade, dias a fio na missão. A buscar as palavras certas para não ofendê-la, sua maior perturbação.
A última carta reparava a lástima do penúltimo envio:
Mãe,
Meus pés são sujos,
como poderia entrar?
Seu filho,
Lesí.
O filho testemunhou o exato momento em que a mãe o leu e disparou contra a janela. Como poderia conter o rompante da captura? A sair tão apressadamente sem se dar conta do risco de ser visto pela mãe.
Retornou aflito. Imaginava que a carta encontraria as outras no mural da mãe. Dessa vez fui leviano, constatou meio tonto.
Correu de volta, subiu as escadas e entrou em casa. Fechou a porta, sem trancar, e deixou o corpo encontrar o chão, com a carta amassada na mão.
Contra a porta, abraçou o tornezelos a repetir a trajetória do papel.
— Preferia a apatia em vez da repulsa. Agora consegui os dois, murmurou Lesí.
Ficou ali por uma hora. Não dormiu, mal piscou. A fixar os olhos ao nada, relembrando a mesma cena.
Despertou ao lembrar da mais terna memória com a mãe, pouco antes da partida. Quando foi apresentado às dobraduras em papel.
Assim nasceu a última carta, em tom de súplica. Embrulhada na lembrança que o alentou.
Esperou a mãe acabar a assepsia; entregou a carta ao mudo mensageiro, que subiu as escadas e deixou a porta de Misel, tudo em segredo.
Pela instintiva teimosia, Misel custou a ler, a contar quinze dias pelo calendário do filho; enganado, o sol cursou sete vezes.
Por esse tempo, assim que cedeu à leitura, Misel não conteve a emoção. E bem ali, do outro lado da rua, Lesí se perguntava como recomeçar e o que os isolou.
Aguarde pelo desfecho,
até logo!
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